Faces ruborizadas me receberam
na chegada!
Elas não me espanta, na
verdade me confortam. Sei que não sabem deste vermelho vergonhoso que lhes
coram o semblante, mas para mim é mais do que perceptível!
O homem nada mais é do que
vergonha seguida de vergonha!
É uma tarefa muito pesada para
nossos ombros, carregar a herança que os tempos do homem nos oferecem!
Herdamos demasiadas vergonhas
pelos processos da nossa “evolução”!
Fizemos coisas terríveis para
chegarmos aqui e agora, que aqui estamos, nos envergonhamos de tudo que
fizemos!
Vergonhas que não assumimos, não
reconhecemos, mas que vivem no nosso intimo!
Quantos de nós não desejam
sair correndo antes de serem reconhecidos?
Quantos não se lamentam de decisões
que tomaram e/ou não tomaram?
Não existe nobreza no homem, o
que ocupa o seu lugar é na verdade uma infinita tentativa de se justificar!
Muitos desejam serem
castigados, punidos e renegados pelo que fazem!
Muitos não aceitam o que lhes
fazem e mesmo quando é algo necessário que lhes oferecem, enchem-se de ira por
saberem que precisaram de outrem para serem o que gostariam de ser!
A incapacidade de se alto-ser
é o que faz do homem uma grande vergonha!
Vejo homens transbordando o
desejo de vingança por terem sido beneficiados por um favor que de imediato
agradeceram, mas que depois de ponderarem sobre os resultados, sentiram-se
tomados pela frustração de terem uma divida a pagar!
No mesmo instante em que se
apresentam como humildes e aceitam as ofertas dos bem feitores, tornam-se
mesquinhos por pensarem que são vistos como não suficientes por aqueles que
tentam lhes ajudar. Ao mesmo tempo, os que ajudam sentem-se superiores em um
momento ou outro por terem o que oferecer e pela falsa iniciativa altruísta,
oferecem seus favores para sentirem-se melhores, sendo que passado o leve prazer
de ajudar, enchem-se de orgulho por serem mais do que quem recebeu seus
favores!
Vejo o homem sendo injusto com
aqueles que não lhe são importantes, enquanto aqueles que lhe causam algum
descontentamento recebem apenas a antipaia que nada pode causar além de aparências!
Vejo homens esforçando-se para
serem compreendidos por sua transparência sem compreenderem que se expor demais
é perigoso, pois quando sabemos demais é difícil manter o silêncio!
Vejo-os me encarando ao
chegar, como se soubessem o que se esconde dentro desse casulo que lhes
apresento!
Encaram-me com um olhar
curioso e destemido, pois ao mesmo tempo que não me conhecem, não são temerosos
ao que pensam ver!
A simplicidade causa sim a
curiosidade, mas o medo quem causa é o mistério!
Não existe mistério em mim. Sou
o que aparento ser, um homem simples chegando!
No entanto, sei que se aqui
permanecer tempo suficiente para que me conheçam, tornarei um mistério para
estes olhares curiosos e talvez sintam medo!
Eu sei que ao descobrirem que
eu conheço a vergonha que escondem no travesseiro antes de dormir, verão em mim
alguém capaz de julgá-los, e não será isso que lhes causará medo, pois o
orgulho lhes impede deste tipo de medo, afinal quem sou eu para julgar um
semelhante?
O medo virá quando eu não
julgar!
E eu não irei!
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