A voz animada do locutor era
um canto por todos os cantos do silencio donde viviam os poucos curiosos em
conhecer “O Solitário”.
“Venham ver, pela primeira vez
entre vocês aquele que nunca esteve entre outrem! Venham ver O Solitário!”
Na noite de estreia, todos os
ingressos tinham um bolso para dormir.
A plateia ansiosa desejava
contemplar o Solitário como só os olhos virgens podem desejar ver!
Ele, que só teve a própria sombra
como companhia, estava agora na imaginação dos muitos pagantes sentados ao
redor do improvisado palco pouco iluminado.
As cortinas se abrem e a
figura do Solitário jaz sob uma luz fumegante que faz queimar os cabelos
grisalhos pelo passar do tempo!
Ele se levanta, curva-se
educadamente, beija as pontas dos dedos enquanto admira os muitos olhares que o
observam e diz:
“- E o que é um solitário?
Eu! Eu sou um solitário!
Sou como um poço profundo indo
cada vez mais pro fundo de mim mesmo.
Sou um poço escuro, uma cova
fria onde muitos atiram pedras, mas donde poucos se arriscariam a resgatar
alguma!
Eu, eu sou o solitário!
A alma abandonada pelo corpo egoísta
e querente de companhia.
Eu sou o comigo quando o Eu não
mais é comigo mesmo.
Sou a sombra do que poderia
ser, se vós, dotados de semelhantes, não me vissem como nulo ou se simplesmente
fossem capazes de realmente ver-me.
Eu sou o instante!
O instante que precede vossas
lagrimas.
Sou o fim do teu sorriso, sou
o suor que lhe escorre da fronte no pânico da duvida.
Eu sou vosso maior abandono,
vosso maior medo.
Sou suas mais desesperadas
tentativas para manter-se nos olhares dos muitos que também desejam serem
vistos... quistos!
Eu sou a solidão no ser!
Eu sou O solitário!
E agradeço vossa companhia
nesta noite!
No céu deste picadeiro,
faço-me lua e aceito-lhes como minhas estrelas!
Brilhemos!”
Terminado o breve discurso, a
plateia põem-se de pé e aplaude.
Na mente do Solitário nasce a
certeza de que as pessoas gostam do que não compreendem!
A luz artificial se apaga e a já
então amada solidão retorna ao lar!
Sozinho em sua solidão, o
Solitário compreende como era infundada tua paixão pela companhia.
Ele que já tanto esteve só, não
é mais capaz de junto estar!
O Solitário compreende que por
tanta solidão já vivida, a vida com mais de um torna-se um abismo de incompreensões
mutuas!
Dizem que é “melhor sozinho do
que mal acompanhado”. O Solitário descobre que é melhor apenas Ser!
"...as pessoas gostam do que não compreendem!"
ResponderExcluirPura verdade...
Ser e nada mais... Justo!